Problemas na qualidade do texto, nos títulos, nos leads, nas legendas, na estrutura dos textos. Assim, a ombudsman da Folha de São Paulo, Susana Singer, enumerou algumas das principais críticas que faz ao impresso em sua coluna diária em que faz a análise crítica do conteúdo publicado pelo veículo. A jornalista ministrou palestra hoje para estudantes de jornalismo da Faculdade Ceut, em Teresina.
Em entrevista, ela falou dos desafios da profissão, do que é preciso fazer para ser ombudsman e da quase inviabilidade deste profissional no jornalismo online.
“Primeiro é preciso ter experiência e já ter vivido em todas as áreas do jornalismo, pois ser ombudsman é fazer sempre uma crítica diária ao que está sendo feito pelo veículo. É também responder aos questionamentos dos leitores, é mostrar para os profissionais o que pode ser melhorado. É um trabalho isolado da redação. Eu escrevo em um blog que só a redação tem acesso. Vale ressaltar que a opinião é minha e o que eu escrevo não reflete o pensamento da Folha e nem que eles vão mudar algo devido ao que eu escrevi. Isso pode ocorrer, mas não necessariamente por isso”, explicou a jornalista que já está há 20 anos na Folha e já passou por praticamente todos os cargos na empresa.
A jornalista também comentou sobre seu trabalho na folha.com. “É extremamente complicado ser ombudsman de um veículo online, pois as informações passam muito rápidas. Faço as críticas mas por assunto, mas vai ser difícil ter um profissional nesta área”, frisa Susana Singer, acrescentando que no Brasil todo não deve haver mais de seis profissionais como ela.
Já outra complicação para o exercício deste tipo de profissão, que critica seus colegas de trabalho, é com relação aos anúncios. Ela fala que um veículo que é dependente de um anunciador, não tem como ter ombudsman.
A PALESTRA
A palestra com aos alunos de Comunicação Social e professores aconteceu no Ginásio da Faculdade Ceut. Ela conversou com os alunos, falou sobre vários temas e respondeu as dúvidas dos presentes.
APRESENTAÇÃO
Ela começou se apresentando e falando que ombudsman é uma palavra sueca que quer dizer ouvidor. Disse que o ombudsman, em sua opinião, não é um inimigo interno nem uma jogada de marketing da empresa, como algumas pessoas falam, é na verdade avaliar a qualidade do que está sendo feito.
PROFISSÃO ESCASSA
Logo em seguida falou que no Brasil são poucos veículos com este profissional. “O Diário do Povo, no Ceará tinha, a Uol tinha, mas os dois meios já não têm mais”, diz.
MOMENTO COMPLICADO
Em virtude do jornalismo feito pela Folha, Susana Singer disse que encontrou algumas dificuldades no período eleitoral, mas foi complicado para a mídia em geral.
EQUÍVOCO
“Ao contrário do que ainda muitos pensam eu não mando na Folha e nem minha profissão tem qualquer gerência sobre o que vai ou não publicado. É comum leitores mandarem e-mails indignados porque o que eu escrevi afirmando que algo deveria ter sido feito de um jeito, não foi mudado pela redação. Essa parte é complicado explicar para eles”, reforça a jornalista.
TEMPO DE ATUAÇÃO
Susana Singer disse que seu ‘mandato’ na Folha é de um ano e pode ser renovado por até três. Mas ela acredita que o ideal é mesmo o ombudsman trabalhar só um ano, pois depois, as pessoas já sabem seu pensamento, você começa a se repetir nas opiniões e as críticas já não vão mais fazer tanta diferença.
BLOG DO SARNEY
Questionada sobre sua opinião com relação ao blog do ex-presidente José Sarney, ela disse que não concorda e que muitas das críticas dos elitores são sobre a permancência dele no quadro de colunistas. “Mas também não posso fazer nada. A Folha acha que ele tem expressão e representa um grupo político muito forte, então, o mantém. Mas ele até evita escrever sobre assuntos polêmicos do cotidiano, escreve mais sobre algum assunto estrangeiro e algo mais literário”, argumenta Singer.
FIM DO JORNAL IMPRESSO
“Creio que o fato do Jornal do Brasil ter ficado só na versão online não significa que os demais caminham para esse fim. No caso do JB foi um processo longo e irreversível. Não acho possível prevê algo tão imensurável. Sei apenas que ao fim de tudo, o jornalismo sobrevive”, fala a ombudsman.
JORNAIS NA INTERNET
“Sou contra. Acredito que não tem como os jornais se manterem só com os anúncios feitos na internet, este ramo ainda é fraco no Brasil. Nos Estados Unidos isso já ocorre, mas aqui, só ver a versão impressa da Folha, por exemplo, quem pagar. Muitos outros jornais também são assim, versão na internet só para quem é assinante”, acrescenta Susana Singer.
TWTTER
A jornalista disse que recebe muitas críticas e sugestões pelo twitter, pois é um público mais jovem. Ela complementou que o twitter, por exigir objetividade em 140 caracteres, expressa bem o exercício do jornalista.
DISCRIMINAÇÃO DO NORDESTE
“O problema do Nordeste só ser notícia quando ocorre um tragédia é que as cobertuas são poucas sobre o que acontece aqui. Então, o interesse só surge quando algo negativo acontece. Também entendo que essa formato deveria mudar”, opina.
CONSELHO DE JORNALSITAS
“Não sou contra nenhum órgão que regularize a profissão de jornalista. Acho que vem ajudar à categoria. No entanto, esse conselho, como é o que alguns Estados estão se propondo a fazer, não pode ter o poder de punição, como a OAB, por exemplo”, avalia a jornalista da Folha de São Paulo
AGRADECIMENTOS
Susana Singer finalizou agradecendo pela oportunidade de falar mais sobre a profissão, que ainda é pouco conhecida do país. Ela reforçou que antes de um estudante pensar em ser ombudsman, é preciso priorizar a formação acadêmica para obter uma boa qualificação e experiência, assim, no futuro, estará pronto para o desafio.
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